Sobrepeso e obesidade

Muitas pessoas, quando recebem um diagnóstico de câncer de mama, ainda tem a idéia de que precisam comer mais para ficarem “fortes” e também de que o emagrecimento está associado à piora do prognóstico. Porém, o que os estudos científicos nos mostram é bem o contrário.

O excesso de peso corporal é um fator de risco para o aparecimento do primeiro tumor de mama e para o pior prognóstico do tratamento. Isto porque o excesso de peso corporal está associado a alterações metabólicas como aumento da resistência insulínica, inflamação subclínica e desregulação do balanço de hormônios sexuais com aumento dos níveis de estrogênio livre.

Estimativas apontam que 28% de casos de câncer de mama são passíveis de prevenção com alimentação e nutrição adequadas, atividade física e manutenção do peso ideal.

Em uma meta-análise (compilação dos resultado de vários estudos) foi encontrado um dado muito interessante: o risco de desenvolver o primeiro câncer de mama em mulheres na pós-menopausa aumenta 33% a cada 5 pontos a mais no índice de massa corporal (IMC) acima da zona da eutrofia.

O IMC é muito fácil de calcular; a fórmula é o nosso peso corporal dividido pela nossa altura ao quadrado:

IMC = peso (em kg) / altura2 (altura em cm)

Os níveis de IMC considerados eutróficos são entre 18,6 a 24,9 sendo que alguns estudos já apontam que o ideal na prevenção do câncer de mama seria ter um IMC entre 21 e 23.

Além do IMC, a circunferência abdominal aumentada (≥ 80cm) também parece estar associada ao desenvolvimento e ao pior prognóstico de doenças crônicas como o câncer de mama.

Sendo assim, estima-se que o conjunto de excesso de peso corporal e a inatividade física representem 1/5 a 1/3 das causas de desenvolvimento dos tipos de câncer mais comuns, como o câncer de mama na pós-menopausa.

Mas outros estudos também demonstraram que o excesso de peso corporal pode estar associado ao aumento de risco de outros tipos de tumores de mama em mulheres antes da menopausa também (como os tumores triplo-negativos; veja https://www.infomama.com.br/blog/tipos-de-cancer-de-mama/).

Atualmente, no Brasil, os dados de sobrepeso e obesidade são alarmantes. Conforme os dados referentes ao ano de 2016, publicados no VIGITEL em 2017, 50,5% das mulheres apresentam excesso de peso corporal (IMC ≥ 25 kg/m2) e o percentual de mulheres obesas (IMC ≥ 30 kg/m2) variou nas capitais brasileiras de 14% a 23%, sendo que, em Porto Alegre, 20% das mulheres estão obesas.

Além da associação com o aumento da incidência de câncer de mama, o sobrepeso e a obesidade podem diminuir o tempo livre de doença e a sobrevida global, tanto para mulheres na pré-menopausa como na pós-menopausa, estando o sobrepeso associado ao pior prognóstico no câncer de mama.

Na prática clínica diária, muitas vezes o que se vê é um aumento de peso durante o tratamento, seja por excesso de ingestão calórica ou por inadequação da dieta para o momento do tratamento.

Recentemente, foi publicado um artigo que reforça a importância de que desde o início do tratamento convencional antineoplásico seja realizada orientação nutricional adequada e individualizada para aquela paciente e para a fase do tratamento, garantindo adequado aporte de macro e micronutrientes, adequando a ingestão calórica para uma leve restrição quando necessário, mas sem dietas da moda.

 


Paloma Tusset
Nutricionista
Porto Alegre, RS

Referências
1. World Cancer Research Fund/ American Institute for Cancer Research Policy and Action for Cancer Prevention. Food, Nutrition, and Physical Activity: a Global Perspective. Washington DC: AICR, 2009
2. Calle, E.E., et al., Overweight, obesity, and mortality from cancer in a prospectively studied cohort of U.S. adults. N Engl J Med, 2003. 348(17): p. 1625-38.
3. Reeves, G.K., et al., Cancer incidence and mortality in relation to body mass index in the Million Women Study: cohort study. BMJ, 2007. 335(7630): p. 1134.
4. Cleveland, R.J., et al., Weight gain prior to diagnosis and survival from breast cancer. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev, 2007. 16(9): p. 1803-11.
5. Limon-Miro AT, Lopez-Teros T, Astiazaran-Garcia H. Dietary Guidelines for Breast Cancer Patients: A Critical Review.  Adv Nutr 2017;8:613-23.
6. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico : estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2016 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017.