Sexualidade e câncer de mama

Uma das esferas mais afetadas no tratamento do câncer de mama nas mulheres é a da sexualidade. Cerca de 89% das mulheres que já passaram pelo tratamento referem algum desconforto emocional com essa questão.

O tratamento para o câncer de mama pode acabar influenciando diretamente nas alterações corporais, principalmente devido ao ganho de peso, a perda dos cabelos e, em alguns casos, a retirada de uma ou das duas mamas, podendo estes efeitos serem interpretados como agressões ao corpo feminino. Com tantas alterações, a mulher acaba por muitas vezes tendo problemas em aceitar sua nova imagem corporal, podendo sentir-se limitada na escolha de roupas mais atraentes, tornando-se frequente o sentimento de medo e tristeza quando toca partes do seu corpo, especialmente durante a higiene, ou quando olha para o espelho. Estes sentimentos podem causar uma diminuição na autoestima gerando afastamento social, mudanças de humor significativas e conflitos conjugais e familiares.

Neste sentindo, as relações com o parceiro ou parceira sofrem um impacto direto e os problemas na relação sexual surgem de forma inesperada. A dificuldade de se expor devido ao sentimento de vergonha e o constrangimento de ver seu corpo diferente do que está acostumada, leva a mulher a ficar mais reclusa e se afastar emocionalmente. Diante de tantas mudanças, o que pode ser feito para amenizar este impacto?

O principal recurso a ser utilizado é o diálogo. Uma estratégia simples, mas que se mostra muito eficaz, é a de conversar com o (a) companheiro (a) sobre suas dificuldades e expor claramente os sentimentos que estão lhe perturbando frente a estas mudanças⁴. Através de uma comunicação assertiva, ou seja, de forma clara, objetiva e direta, a mulher poderá compartilhar suas dificuldades e encontrar em conjunto com o seu cônjuge as melhores estratégias para solucionarem os problemas existentes.

Explorar novas formas de carinho, de expressão emocional e de intimidade podem ser recursos válidos diante das dificuldades. Técnicas cognitivas e comportamentais, como a dessensibilização sistemática, mudança de foco atencional e treino de habilidades sociais podem auxiliar na exploração de novos recursos durante o período. Um bom exemplo destas técnicas é quando solicitamos para as pacientes que pelo menos uma vez ao dia, durante todos os dias da semana, ela possa ficar olhando para o espelho durante o máximo de tempo que conseguir. A cada dia que ela tentar, deverá ficar um pouco mais, até que ao fim da semana ela consiga se olhar no espelho pelo maior período que já conseguiu até o momento. Esta técnica é a da dessensibilização sistemática e age no intuito de auxiliar as pacientes a assimilarem melhor as mudanças corporais, dessensibilizando (ou seja, tornando menos sensível) a emoção negativa associada ao fato de se olhar no espelho.

Para que possa receber maior orientação de estratégias mais eficazes para estes problemas, procure um psicólogo que possa lhe orientar e trabalhar mais diretamente com as dificuldades apresentadas no tratamento oncológico. Lembre-se que, apesar de ser um período muito doloroso, é apenas uma fase de sua vida e que com o passar deste período, as funcionalidades retornam dentro do possível. Mas, enquanto não conseguir lidar com os problemas apresentados, conte com este profissional para lhe guiar neste momento.


Lucas Bandinelli
Psicólogo
Especialista em Psico-Oncologia
Porto Alegre, RS

 

Referências
1. Helms RL, O’Hea EL, Corso M. Body image issues in women with breast cancer. Psychol Health Med, 2008;13(3):313–25
2. Kaminska, M., Kubiatowski, T., Ciszewski, T., Czarnocki, K. J., Makara-Studzinska, M., Bojar, I., & Staroslawska, E. Evaluation of symptoms of anxiety and depression in women with breast cancer after breast amputation or conservation treated with adjuvant chemotherapy. Ann Agric Environ Med, 2015;22(1), 185-189.
3. Heidari, M., & Ghodusi, M. The Relationship between Body Esteem and Hope and Mental Health in Breast Cancer Patients after Mastectomy. Indian J Palliat Care, 2015;21(2), 198-202.
4. Manne SL, Ostroff JS, Norton TR, Fox K, Goldstein L, Grana G. Cancer-related relationship communication in couples coping with early stage breast cancer.Psychooncology, 2006;15:234–247.
5. Kalaitzi, C., Papadopoulos, V. P., Michas, K., Vlasis, K., Skandalakis, P., & Filippou, D. Combined brief psychosexual intervention after mastectomy: Effects on sexuality, body image, and psychological wellbeing. Journal of Surgical Oncology, 2007;96(3), 235-240.
6. Jun, E.-Y., Kim, S., Chang, S.-B., Oh, K., Kang, H. S., & Kang, S. S. The effect of a sexual life reframing program on marital intimacy, body image, and sexual function among breast cancer survivors. Cancer Nursing, 2011;34(2), 142-149.