Genética e câncer de mama

Menos de 10% dos tumores malignos da mama são hereditários, ou seja, passam de geração para geração numa mesma família, devido a alterações que levam a defeitos em genes (figura 1). Essas alterações em genes, na maioria das vezes, são chamadas de mutações.

Figura 1 – Localização e estrutura dos genes.

Mutações podem ser herdadas de um dos pais (mutações germinativas, presentes no óvulo da mãe ou no espermatozóide do pai; são, portanto, hereditárias) ou adquiridas ao longo da vida (mutações somáticas; não são hereditárias).

Existem vários genes que podem ter mutações levando a uma maior predisposição a desenvolver câncer de mama. Os mais conhecidos são os a seguir.

BRCA 1 e BRCA 2:
– são os genes mais comumente associados ao câncer de mama; nas células onde esses genes funcionam normalmente (ou seja, não estão mutados), eles ajudam a prevenir o câncer; no entanto, quando eles possuem mutações, há prejuízo na função de prevenir o câncer e as células podem crescer de maneira alterada, sem que haja um “freio” (que ocorreria se o BRCA não tivesse mutações);
– uma pessoa com mutação de BRCA 1 ou de BRCA2 possui uma chance em torno de 50% de passar o gene alterado para a próxima geração;
– pessoas com mutação de BRCA 1: tem chance de desenvolver câncer de mama de 60%; de câncer de ovário de 46%; de câncer de mama em homens de 1%; de câncer de próstata de 9% e de câncer de pâncreas de 1%;
– pessoas com mutação de BRCA 2: tem chance de desenvolver câncer de mama de 50%; de câncer de mama em homens de 8%; de câncer de próstata de 15% e de câncer de pâncreas de 5%;
– o câncer de mama relacionado a mutações no BRCA 1 e 2 ocorre, geralmente, em mulheres jovens.

ATM (Ataxia teleangiectasia mutated):
– quando funciona normalmente, esse gene consegue reparar o DNA danificado; a herança de 2 cópias alteradas desse gene pode levar a uma doença chamada ataxia-telangiectasia; a herança de 1 cópia alterada pode aumentar o risco de câncer de mama;
– mutações no gene ATM são responsáveis por até 3% dos casos de câncer de mama familiares.

TP53:
– esse gene leva à produção de uma proteína chamada p53, que, quando está funcionando normalmente, ajuda a interromper o crescimento de células anormais;
– mutações no TP53 causam a síndrome de Li-Fraumeni, que está associada a maior risco de desenvolver câncer de mama, leucemia, tumores cerebrais e sarcomas.

CHEK2 (checkpoint kinase 2):
– mutações nesse gene aumentam o risco de câncer de mama em 2-3 vezes e podem também associar-se a síndrome de Li-Fraumeni;
– quando a pessoa com mutação de CHEK2 tem um familiar que já teve câncer de mama, seu risco de ter a doença aumenta para 44%.

PTEN:
– quando está funcionando normalmente, esse gene regula o crescimento celular; mutações herdadas associam-se a síndrome de Cowden, que aumenta o risco de tumores (benignos e malignos) de mama, do trato digestivo, da tireóide, dos ovários e do útero.

CDH1:
– mutações hereditárias nesse gene podem causar uma síndrome de câncer gástrico difuso hereditário (rara) e também aumentar o risco de desenvolver câncer de mama do tipo lobular.

STK11:
– mutações nesse gene podem causar síndrome de Petz-Jeghers, onde há manchas nos lábios e na boca, pólipos no trato urinário e no trato gastrointestinal e maior risco de câncer, incluindo de mama.

PALB2:
– a proteína gerada por esse gene interage com a proteína feita pelo gene BRCA 2; mutações no gene PALB2 pode aumentar o risco de desenvolver câncer de mama;
– risco de câncer de mama até os 70 anos de idade, quando há mutação do PALB2, varia com a história familiar de câncer, ficando entre 30% (quando não há história familiar) a 60% (quando há 2 ou mais familiares com câncer de mama).

Referências
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