Quimioterapia e pele
Por serem tecidos que apresentam rápida multiplicação celular, a pele, os pelos, as unhas, as mucosas e as glândulas são muito suscetíveis a desenvolver reações adversas com o tratamento quimioterápico. Os efeitos mais comuns são:
– ressecamento e/ou vermelhidão na pele;
– mucosite;
– unhas fracas;
– descolamento do leito ungueal; e
– alopécia (perda dos cabelos).
Pacientes com pele mais sensível podem ter mais predisposição às reações cutâneas. Antes do início do tratamento quimioterápico, é muito importante que o histórico de reações na pele em geral e de qualquer sintomas apresentados seja relatado ao seu médico. Se recomenda o uso de HIDRATANTES para a prevenção do ressecamento causado pela medicação. Muito importante também é o uso de PROTETOR SOLAR e de chapéus, bem como evitar exposição solar das 11h às 15h, pois durante todo o tratamento a pele fica mais sensível à radiação ultravioleta.
Abaixo, estão listados os principais efeitos colaterais cutâneos da quimioterapia.
Reações alérgicas:
Embora pouco frequente, medicações quimioterápicas podem desencadear reações alérgicas no momento ou logo após sua infusão. As reações alérgicas mais frequentes são urticárias (vergões na pele), prurido (coceira) e angiodema (inchaço nos olhos, boca e garganta). Reações alérgicas mais graves (anafilaxia) são bastante raras e, geralmente, ocorrem na primeira hora de administração endovenosa da medicação, embora também possam se manifestar dentro de 24 horas após a infusão do quimioterápico.
Síndrome palmo-plantar (“síndrome mão-pé”):
Também chamada de eritrodisestesia palmo-plantar, esse efeito colateral é ocasionado pela toxicidade de alguns quimioterápicos nos pequenos vasos sanguíneos das palmas das mãos e das plantas dos pés (figura 1). Podem surgir sensação de queimação nas mãos e pés, vermelhidão, inchaço, formigamento, bolhas, dor, coceira, que, em geral, aparecem após as primeiras semanas de tratamento. Com menos frequência, as lesões podem surgir em outros locais, como joelhos e cotovelos. Nos casos mais intenso, podem ocorrer feridas de difícil cicatrização, descolamento da unha e mesmo dificuldade para usar as mãos ou caminhar.
Figura 1 – Síndrome mão-pé (no calcanhar).
Alopécia:
Veja o post “Alopecia por quimioterapia”.
Mucosites:
As mucosas são muito suscetíveis aos efeitos da quimioterapia, podendo apresentar vermelhidão, fissuras ou feridas dolorosas, o que caracteriza a mucosite (figura 2). Com a dor, pode ocorrer dificuldade na alimentação e na deglutição. A higiene dentária adequada e o uso de soluções orais antissépticas podem ajudar na prevenção e no tratamento desse efeito colateral. É importante consultar seu dentista antes de iniciar o tratamento com quimioterapia, para fazer a prevenção e o tratamento de potenciais problemas.
Figura 2 – Mucosite.
Alterações de pigmentação:
Os quimioterápicos podem causar alterações na coloração da pele, das unhas, dos cabelos e das mucosas. Em casos mais raros, a hiperpigmentação nas gengivas pode ser permanente, mas, na maioria dos casos, há melhora com a suspensão da medicação.
Alterações nas glândulas da pele:
Durante o tratamento, você pode notar alterações no suor, principalmente à noite. Menos comum é ocorrer uma inflamação das glândulas écrinas (do suor), que pode ser causada pela toxicidade do quimioterápico nessas glândulas. Fique atento se, durante o tratamento, você apresentar manchas avermelhadas, pústulas ou nódulos acompanhados de febre em região de maior sudorese, como axila e virilha.
É importante salientar que os efeitos colaterais acima citados podem ser revertidos ou pelo menos amenizados com a redução das doses da quimioterapia ou com o aumento dos intervalos entre estas. O oncologista deve ser sempre avisado sobre esses efeitos adversos, para planejar a continuidade do tratamento. Além disso, medicações anti-alérgicas podem ser utilizadas juntamente com o tratamento quimioterápico, para a prevenção das reações de hipersensibilidade (alérgicas).
Em geral, os efeitos colaterais cutâneos são leves e tem boa resposta aos tratamentos sintomáticos, principalmente quando forem instituídos precocemente. Desta forma, fique atento se a sua pele apresentar alguma alteração no decorrer da quimioterapia.
Analupe Webber
Médica Dermatologista
Porto Alegre, RS
Ana Beatriz Carpena El Ammsr
Médica Dermatologista
Porto Alegre, RS
Referências
1. Donati A, Castro L. Efeitos colaterais cutâneos de quimioterapia com taxanos. O ponto de vista do dermatologista. An Bras Dermatol. 2011;86:1806-4841.
2. Criado PR, Brandt HRC, Moure ERD, Pereira GLS, Sanches JA Jr. Reações tegumentares adversas relacionadas aos agentes antineoplásicos – Parte II. An Bras Dermatol. 2010;85(5):591-608.