Câncer de mama inflamatório

Esse tipo de câncer é bastante agressivo e acontece devido ao bloqueio que as células malignas fazem nos vasos linfáticos da pele da mama. Os vasos linfáticos são canais pequenos (ou “caninhos”) que transportam um líquido chamado linfa. Osvasos linfáticos (figura 1) se originam nos vários órgãos, e, confluindo uns com os outros, terminam nas grandes veias próximas do coração. A linfa possui células que combatem infecções (os linfócitos) e também células que morreram nos diversos tecidos e órgãos do corpo e devem ser retiradas do local. No trajeto dos vasos linfáticos, há pequenas dilatações, chamadas gânglios linfáticos (ou, popularmente, chamados de ínguas). Esses gânglios tem como principal função produzir linfócitos e são um lugar de “limpeza” ou depuração,  importantes para o combate às infecções do organismo, pois atuam como um filtro que não deve deixar passar microorganismos.

Figura 1 – Vasos linfáticos do corpo humano (em verde).

O câncer de mama que bloqueia os vasos linfáticos da pele da mama é chamado de “inflamatório” porque normalmente deixa a mama com edema (“inchaço”) e vermelha, com aspecto de inflamação. Ele é raro, ocorrendo em 1-5% de todos os casos de câncer de mama. A maioria dos casos de câncer de mama inflamatório são “carcinomas ductais invasores” (esse é o tipo histológico; o tipo de células que forma o tumor maligno). Geralmente, apresentam rápida progressão, dentro de semanas ou poucos meses. Ocorre com mais frequência em pacientes jovens. Embora mais comum em mulheres, pode também ocorrer em homens.

Os sinais e sintomas são causados pela obstrução à circulação da linfa da pele da mama:

– edema (“inchaço”) da mama;
– eritema (vermelhidão) da mama;
– rápido aumento do tamanho da mama;
– sensação de mama pesada, queimando, ou com maior sensibilidade ao toque;
– inversão do mamilo (quando ele entra para a pele);
– pele infiltrada, com aspecto de casca de laranja (chamado de “peau d’orange”);

Pode haver aumentos dos linfonodos (“ínguas”) da axila.

Como não é comum haver um nódulo palpável, o diagnóstico pode ser difícil. Além disso, os sinais e sintomas acima podem ocorrer em outras doenças da mama (como infecções e traumatismos, levando à confusão com mastite), causando frequentes atrasos no diagnóstico dessa condição tão grave.

A mamografia pode não demonstrar alterações, pois as mamas de mulheres jovens costuma ser densa e não é comum haver nódulo bem definido.

Para evitar atrasos no diagnostico, foi elaborado um consenso internacional contendo critérios mínimos para o diagnostico do câncer de mama inflamatório:

– inicio rápido de eritema, edema e aspecto em casca de laranja na mama, com ou sem alteração das temperatura da mama, com ou sem aumento de linfonodos na axila do mesmo lado;
– sintomas acima presentes ha menos de 6 meses;
– eritema cobrindo pelo menos 1/3 do volume da mama;
– biópsia da mama mostrando carcinoma invasor.

Após o diagnóstico, a sequência deve seguir exatamente a dos outros tipos de câncer de mama, ou seja, definição de receptores pela imuno-histoquímica (receptores de estrogênio, progesterona e HER2), mamografia e ultrassonografia mamárias, avaliação de outros órgãos com tomografias e cintilografia óssea ou com PET-CT.

O tratamento geralmente deve iniciar pela quimioterapia, uma vez que a cirurgia pode deixar tumor maligno ainda na mama, já que ele não é bem definido (lembrando que, além de nem sempre haver nódulos, a pele está infiltrada e é difícil delimitar essa infiltração por células malignas adequadamente). Após a quimioterapia, planeja-se a cirurgia para remover a mama inteira (mastectomia) e, na sequência, a radioterapia. Se houver presença de receptor HER2, agrega-se bloqueio desse receptor ao tratamento, iniciando já durante a quimioterapia. Quando houver receptores de estrogênio e progesterona, após a sequência acima, inicia-se o tratamento com bloqueio hormonal.

É importante ter em mente os sinais e sintomas descritos acima para que haja tempo de diagnosticar o câncer de mama inflamatório em estágios onde ainda possa haver a cura da paciente.

Quando houver alguma dúvida em relação a saúde da mama, é sempre recomendável procurar logo seu ginecologista ou um mastologista para exame físico adequado.

 


Daniela Dornelles Rosa
Médica Oncologista, PhD
Pós-doutora pela CAPES em Manchester, Inglaterra
Porto Alegre, RS

 

Dica: não deixe de ler o depoimento relacionado a esse tema: https://www.infomama.com.br/blog/campanha-de-conscientizacao/

 

Referências

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