Campanha de conscientização
Era junho de 2017 quando fiz o autoexame no banho e senti uma dor absurda abaixo da axila que, tocando, me levava a um caroço na mama. Lembro muito bem que era noite e, saindo do banho brinquei com meu marido… “Estou com caroço na mama, mas tá doendo, pelo menos não é câncer, pois dizem que câncer não doi”. Essa foi a primeira de muitas coisas que leigos falam de forma errônea sobre cânceres!
Dia 27/07/2017, o primeiro diagnóstico, carcinoma ductal invasivo de grau III. Consulta com mastologista, programações, explicações, mas apenas sobre a cirurgia, ele não falava o que na hora eu mais temia: vou perder o cabelo????? Em 15/08/2017 o procedimento foi realizado com sucesso e o tumor foi retirado, porque esse é daquele tipo de câncer que tem 95% de chance de cura, então estou tranquila! Sentia dores, muitas dores, peito inchado, quente, enfim…
Consulta com a oncologista, uma amada que parecia ter entendido exatamente tudo que passava na minha cabeça e me deu um milhão de explicações, aliás, não só a mim, pra mim, minha mãe, meu marido e minha madrinha, era uma comitiva, kkkkk. Em 15/09/2018 a primeira tão assombrada quimio vermelha! Que medo, que desespero. Evidente que eu, ansiosa como sempre fui, já estava de cabelo zerado. Tive interferências na quimio vermelha e seria hipócrita de dizer que “foi beleza”…. Não foi, doeu, machucou, fiz cirurgia pra colocar o portocath, inflamou… vai na emergência, sai da emergência, volta novamente. Enquanto isso, a mama vermelha, quente, inchada, doída e agora mudando seus aspectos e eu percebendo que meus poros eram muito grandes e diferentes… O tal que parece uma casca de laranja!
Ahhh, um detalhe, esqueci de dizer que após a cirurgia soube que o câncer ja tinha metástase nos 16 linfonodos axilares, que foram retirados e, também, que eu seria um triplo negativo, o que eu comemorava, pois eram ”3 vezes não alguma coisa”. Terminadas as quimios vermelhas, que todos diziam que era “a pior”, as 12 brancas vieram me mostrar que também não brincam. Fiquei mal com a quimio branca, a mama seguia sintomática, fui pra emergência, me mandaram embora pra tomar antibiótico, seguia as quimios, consultas e os sintomas ali. Voltei no mastologista, a dor era demais, a sensação era terrível, pensei em desistir de tudo e…. aquilo que não queria, aconteceu! O câncer “subiu pra cabeça” e caí de cama numa depressão por mais de 20 dias direto (tenho problemas pessoais que se somam a isso).
Mas vamos lá, final das quimios, festa com minhas lindas e queridas amigas, digo, equipe da quimioterapia do hospital! Tinha ACABADO! PARTIU RADIOTERAPIA! Entretanto, não pude fazer a radio antes de ser avaliada pelo meu masto, que novamente me mandou tomar antibiótico, pela quinta vez… Tentei dizer que já tinha tomado, mas ele disse que era mastite e em 10 dias a radioterapia começaria. Retorno de consulta, estou liberada (minha mama tinha exatamente o mesmo aspecto, mas sou paciente – que ousadia querer saber mais que o Dr! Hehehhe). Neste momento, eu já tinha feito as marcações para radioterapia a partir de uma tomografia e havia aparecido um nódulo no pulmão que me assustou.
Volta ao radioterapeuta, ele avalia a mama e diz novamente que não pode iniciar a radio com os mesmos sintomas na mama e prescreve mais 21 dias de antibiotico somado a uma antinflamatorio… Aqui já estou em pânico! Ele avalia em 3D a tomografia do meu pulmão e diz: isso parece algo ruim, converse com o médico responsável pelo teu tratamento! Me perguntei, mas por que ele mesmo não fala?
Enfim, voltei ao onco, mencionei os fatos e foi solicitado o PET-CT, aquele exames que pode achar onde tem câncer. Já estamos em 30/5/2018 quando fiz o exame. Resultado: pulmão limpo! Graças a Deus …. Na na ni na não! …. O exame marcou alterações no retroperitônio, ovário e mama. Oi???? Como assim????? Informa resultado e…? Mais exames!
Internei por 10 dias, fiz TODOS os exames necessários e no retroperitônio nada, no ovário, apenas um cisto e na mama? Sintomas ali, core biopsy não deu em nada, mas não teve como fazer um examezinho simples e dermatológico chamado de “punch”, pois o hospital não oferecia o material. Tudo avaliado e acertado, tive alta com diagnóstico de linfedema da mama.
Até aqui, pelo menos, uns 14 médicos de todas especialidades já haviam avaliado a minha mama. Uma única médica, durante a internação falou em eventual outro câncer, mas ela não teve material pra gritar BINGO! Mas ela sabia! Fui para outro radioterapeuta. Um cara fora de série que eu chamo de meu anjo! Ao simples olhar ele já excluiu inúmeras hipóteses, ligou pra um colega, chamou na mesma hora um oncologista para debater o caso, falou com outro e me deu o contato de quem faria o então “punch”! Terminou a consulta dizendo assim: na medicina, uma vez ou outra dizemos que tem casos que nunca vimos, mas em 28 anos de profissão, nunca vi um caso como o teu!”
Estamos chegando em 1 ano após a primeira descoberta! Sai o resultado, e…??? CARCINOMA NA DERME DA PELE EMBOLIZANDO OS VASOS LINFÁTICOS! Como??? Carcinoma??? Câncer??? De novo??? Mas eu fiz quimio!!! Ahhhh, mas internada eu descobri que sou um triplo negativo, que eu comemorava, mas que era a pior espécie, pois ele raramente pode ser resistente à!
SEM CHÃO!
Meu cabelo estava crescendo, eu já estava com planos de remontagem do meu escritório, procurando sala, e vem isso tudo de novo! Meu Deus! Quais são teus planos??? Ahhh, não importa, eu SEMPRE vou aceitar, pois são melhores que os meus. É fato: em 1 ano, estou com o 2° câncer de mama, chamado carcinoma inflamatório, um câncer raro, rápido, agressivo e incurável para medicina. Pelo que pesquisei, de 1 a 3% dos cânceres são dessa espécie e até para os médicos ele é um desconhecido. Foi então que fiz a escolha de fazer tudo diferente e, desta vez, comecei a ver o quanto de coisa boa o câncer me trouxe: amor, amigos, caridade, solidariedade, amadurecimento novos pensamentos, novos pontos de vista, afastou pessoas que não mereciam meu amor e me trouxe pessoas especiais e histórias de vida apaixonantes.
Foi então que, sem qualquer constrangimento e depois de ler o livro do David Coimbra, que menciona a mesma sensação e de quem até recebi um mensagem de whatsapp de apoio, hoje sei que TENHO CÂNCER E #POSSOSERFELIZCOMCÂNCER e assim comecei uma campanha pra ajudar outras mulheres, para que não errem como eu, no primeiro câncer. Hoje faço lives, tenho redes sociais e estou sendo procurada e fechando parcerias pro Outubro Rosa… O câncer segue ali, sendo tratado por um novo médico que está vendo a minha cura como um desafio, pois ele quer sim curar aquilo que dizem que já era e minha sobrevida é de 2 a 5 anos! Ele é como eu e não aceita o “não tem jeito” como resposta, e eu percebo isso na discrição das palavras de um dos mais conceituados oncologistas do hospital em que estou fazendo este novo tratamento.
Amigos e parentes questionaram se não havia erro médico, falha ou etc, mas eu confesso a vocês que tudo tinha que ser exatamente como foi e, se 14 médicos não perceberam, certamente não estamos falando de algo muito simples e corriqueiro, a ponto de se considerar que não viram; é aquela exceção que surge e demora a ser percebida, estando hoje em estágio IV, avançado, também localizado na mama.
E eu????? Faceira da vida, respeitando os protocolos, deixando os cabelos caírem ao invés de tirar e buscando, PARA ESTE OUTUBRO ROSA, FALAR SOBRE UM CÂNCER QUE QUASE NINGUÉM CONHECE!
Agarrada na fé, pois pro meu Senhor Jesus Cristo nada é impossível, aliado ao amor da família, dos amigos, de desconhecidos e de uma multidão que já me conhece e me emociona, eu AGRADEÇO O CÂNCER, POIS FOI SABENDO QUE POSSO MORRER QUE EU PASSEI A VIVER!!!
Opa, opa, opa…. O câncer que disse que tu podes morrer? Que nada! A gente nasce sabendo que essa é nossa única certeza, mas sequer damos bola…. Deixamos o “eu te amo” pra amanhã, deixamos de estar com pessoas que nos fazem bem, pois temos que fazer hora extra pra adquirir tudo aquilo que não levamos depois que morremos. Em suma, essa sou eu, a @eve_fatori no insta, Eve Fatori do Face, Evelise de Freitas Fatori na OAB/RS e uma filha de Deus que o AMA sob todas as coisas, enquanto Ele me permitir andar nesta terra!
Posso ser feliz com câncer; vou fazer tudo que posso de coisas boas pra quem precisa, pois o BEM sempre será maior que o mal e, mais que isso VOU AONDE FOR PARA FALAR DO CARCINOMA INFLAMATÓRIO, com base em conceitos leigos, que são os que tenho, mas me aliando a médicos, psicológos, farmacêuticos e outros especialistas que NESTE Outubro Rosa, além de explicar sobre esse mocinho desconhecido, vão nos auxiliar a entender melhor e conviver FELIZ com o câncer, sem que isso pareça algo errado!!!!
Está com câncer???
Procura a gente então!
#somostodosevefatori
#possoserfelizcomcâncer
#carcinomainflamatorio
Evelise de Freitas Fatori
Advogada
Porto Alegre, RS